5 de setembro de 2006

Dez Crianças

Dez crianças se abraçam

Na praça

Em frente da igreja.

Elas não sentem mais frio,

Nem seus olhos refletem dor.

Dormem em paz,

Aos pés dos anjos do Senhor,

Sem cobertores

E sem vida.


Dez crianças magrinhas

Não precisam mais roubar

Ou trocar o corpo

Por um prato de comida.

- Talvez seja melhor assim!

Pensa alguém,

Quando vê as criancinhas.

Elas não precisam mais chorar,

Nem precisamos nós.


Dez Crianças chacinadas

Na praça,

No sangue e no chão.

Se elas faziam falta,

Seus corpos, com certeza,

Não.

Pois embaçam a vista

E ficam na contramão.

20 de julho de 2006

TODOS QUEREM

Todos querem
A musa vaporosa,
Captada nas antenas
De aeroportos no verão.

A sala fica úmida,
O sofá derrete;
A musa pisca
No carpete.

Oh musa,
Teus olhos,
São taças de vinho.

Noite após noite,
A te degustar.
Pé ante pé,
Oh musa,
Venho.

Tua cor
E formas
Só minhas,
De ninguém mais.

Minha, a sua freqüência.

Longe das pistas de dança
E das colméias de luz,
Lá no esconderijo
Do meu desejo,
Faria-te visível,
Oh musa.

Tua carne
Faria fumaça
Para fundir-te comigo
Numa arquitetura de odores
Moles e prazeres,
Oh Vaporosa
Musa.

Poética

Minha poesia
É alquimia:
Cria com o cobre
Do relógio (lento)
O (rápido) ouro nobre.

Minha poesia
Causa disritmia
Com palavras comuns
E combustível
PrA´lma.

Minha poesia
Pode ser agonia,
Ser lamento,
Muitas vezes
Sai gemendo.

Minha poesia
É feitiçaria
Pra elas (por elas)
Em nossos peitos
(em segredo).

18 de julho de 2006

O vento se faz flauta.
O tempo traz de volta.
Correndo pra costa.

Na praia, uma sereia.
Um mapa na areia.
Maias numa aldeia.

Trilha no espaço.
Futuro que não traço.
Utopia faz um laço.

Enfim, um pôr-do-sol.
Um peixe pro anzol
E muito Rock n, Roll.

MENINO DE RUA

Dá uma esmola?
É pra cheirar cola
E respirar solvente.
Quero ficar demente!

Cutuque nossa ferida:
Isso aqui nem ser vida.
Beba o nosso pus...
Não nos dê, mãe, a luz!

Somos crianças pobres,
Temos dentes podres,
Não escolhemos nascer,
Mas pedimos para viver.

Vocês podem não nos ver,
Mas existimos, podes crer!
E essa vida quase morta
Preferimos esquecer.

26 de abril de 2006

Pó e poeira

Prédios históricos,
Franceses utópicos
Na Babilônia carioca.
Desejos Tórridos:
Cocaína e michê.

A noite é uma criança.
Bebê de Rosemary.
Gatos, gatunos e vadios.
Veados de praça,
Ruas de merda:
Centro carioca.

Escorre no bueiro
Sangue ingênuo
E Cocaína.

Foram-se os franceses
E suas utopias.
Ficaram veados,
Vagabundos viciados,
Seguranças subornados
E um PM honesto.

Meu sangue escorreu
E eu morri na praça.
Longe das utopias,
Virei carniça
De crianças promíscuas,
De putas e podres
Pobres sem futuro.

Morri
E meu sangue carioca
Virou pó
Pros viciados.

UMA NOITE

Na noite escura
Vem mais uma vez
Maldita pergunta:
O que estou fazendo aqui, porra?

O absurdo do mundo
Faz-me definhar.
Meu único alívio
Nessa tremenda opressão
É a pena.

Só nela descanso as dores
Deitando tinta
Como quem se deita na cama
E esquece de si em sonhos.
Além da pena
Encontro alívio na cama.

Entre sonhos ou urros
Esqueço-me de mim mesmo
E do mundo.

As noites repetem
Malditas perguntas.
Nada consegue apagá-las
Muito menos respondê-las.
A razão nunca conseguirá.

Só Deus fornece o porquê
Da existência.
Pena nenhuma consegue
Explicar, nem posso eu.

Tento aceitar, em silêncio,
A existência do destino,
O absurdo do mundo
E tudo mais...

Nem sempre consigo.

Só na pena,
O alívio encontro.
Entre alívios e angústias
Vou levando
Minha existência individual
De encontro ao nada.

10 de abril de 2006

Poemas Concretos

Egotrip

CAVE
AVE
VÊ?
NAVE.





Gerações

REI
EX-REI
PÓSREI
SEM REI
ERREI

Anti-Romântico espiritual

Uma, duas, três vidas...
Só me conhecendo.

Quantas mais vou ter de viver
Antes de conhecer você?